Habilidades para alimenar uma criança
É necessário ter habilidades para comer? E para dar de comer?
Sim. São necessárias habilidades para comer. E começa desde a sucção do leite materno. Quando trago habilidades para alimentação penso em 3 habilidades importantes para a criança: A habilidade fisiológica, a cognitiva e a relação com o cuidador. A união das três de forma orgânica nos torna um comedor competente.
As habilidades fisiológicas ao comer, são as que aprendemos nos primeiros dois anos de vida, como sucção, engolir, sentir fome e saciedade, mastigar, sentir prazer ao comer. As habilidades cognitivas são as das crianças pedirem ou apontarem para a comida, de levar o talher até a boca; de descascar o alimento, de pegar o grão de feijão, de imitar como os outros comem. E a outra habilidade importante é a relação com o cuidador que tem a ver como o cuidador alimentará seu “serhumaninho” e que envolve emoções, diálogo, expressões corporais e verbais em volta da mesa.
E para dar de comer? Precisa de alguma habilidade?
Afirmativo. Alimentar um outro ser vai além de oferecer colheradas para a criança. Há um vínculo nesse exato momento que se constrói e se baseia na confiança e em todos os outros possíveis significados do comer que já abordamos no blog coruja – link aqui -. A confiança, o conforto e a segurança são habilidades exclusivas de quem vai dar a comida, seja a babá, a professora, avó e os pais. Imagina ir a um restaurante a lá carte e você pede um prato com X ingredientes e ao chegar o prato vem o ingrediente Z. Você vai questionar ao garçom o que aconteceu e resolver. No outro dia você volta e acontece a mesma coisa e no terceiro dia também. Você perde a confiança, não é? Pois é. Agora imagina a criança que está recusando legumes e eles aparecem de forma bem “escondida” no feijão de todo dia. Será que a criança não vai perceber? O que pode acontecer se a criança perceber essa diferença de cor, cheiro, textura do seu feijão? Quebrar a confiança. E recusar o feijão. E os legumes escondidos.
Para sermos um comedor competente precisamos adquirir as habilidades citadas acima e os seguintes critérios:
1. a importância de se ter tempo para comer e apreciar o que se come;
2. a atitude positiva estabelecida sobre a alimentação e a comida;
3. o prazer em comer, privilegiando aquilo que gosta;
4. competências de regulação interna, ou seja, preste atenção às sensações de fome e saciedade para determinar o quanto comer.
Vamos juntos tornar essas habilidades em competências alimentares?
Você sabe alimentar um mini humano?
É totalmente esperado que os cuidadores tenham dúvidas sobre a alimentação infantil quando chega mais uma boquinha no lar. Mas uma coisa temos certeza: toda a família (inclui-se vovó, vovô, titia, titio e agregados) quer oferecer o que há de melhor para esse mini humano crescer saudável e feliz. Não é mesmo?!
Mas você já parou para pensar o que é uma alimentação adequada e saudável para a sua cria?
Independente da sua resposta, continue lendo esse texto porque eu quero te contar o que é uma alimentação adequada e saudável infantil, mas também o que oferecer para garantir isso na rotina alimentar da sua família.
De acordo com o Guia Alimentar Brasileiro, edição de 2014, uma alimentação adequada deve ter como base os alimentos que a natureza nos oferece.
Usamos a palavra ‘adequada’ nesse contexto para fazer referência a um consumo de alimentos em quantidade e em qualidade para atender as necessidades de cada ser humano, de acordo com a fase da vida em que se encontra e respeitando suas preferências e especificidades (como ter alguma doença ou restrição alimentar).
Garantir esse aporte de vitaminas, minerais e energia permite que a criança cresça e se desenvolva em todo o seu potencial, o que faz toda a diferença nos dois primeiros anos de vida.
Nosso próximo texto será sobre ‘rotina alimentar’, mas, por enquanto, entenda esse termo como uma forma de contextualizar os hábitos (costumes) que acontecem no dia a dia da alimentação de um indivíduo ou um grupo.
Bora saber o que oferecer então?!
É importante que durante a rotina alimentar da criança (e da família) a base seja de alimentos in natura ou minimamente processados, como arroz, feijão, frutas, legumes e verduras, mandioca, milho, carnes, ovos, entre outros.
Os alimentos processados industrialmente, como enlatados, queijos e conservas, devem ser limitados e, se forem consumidos, utilizados em pequenas quantidades.
Já os alimentos ultraprocessados, como biscoitos, sucos artificiais, refrigerantes, salgadinhos de pacote, macarrão instantâneo e guloseimas, devem ser evitados de fazer parte da rotina alimentar da criança.
Como está esse equilíbrio aí na sua casa?! Tem sido difícil? Ou tá fluindo?! Me conta nos comentários, eu quero te ajudar!
O que é comer para você?
O que é comer para você? Por que você come? O que te falaram que é?
Parece tão óbvio, tão natural a resposta né! Já ouvi tantas e diversas respostas dessas perguntas. Muitos adultos, incluindo pais me falam que comer é colocar a comida na boca, mastigar e engolir. Este é um dos conceitos de comer e que está relacionado ao ato totalmente cognitivo (aprendido) do ser humano comer. Há outros conceitos relacionados ao ato de comer que vamos trazer para reflexão nesse assunto.
Comer é um ato individual, é único. Não confunda com “dar de comer”. Cada ser define como este alimento chegará até a boca.
Comer é sobrevivência. Sim, precisamos de energia dos alimentos para realizar atividades diárias.
Comer é mastigar e engolir. A função dos dentes, da língua, do esôfago é justamente para isso. Em caso de qualquer alteração ou inabilidade nestes órgãos o comer pode ser prejudicado.
Comer trás sensações (prazer ou desprazer). Aquele seu alimento preferido que libera os hormônios do prazer e também quando comemos algo que não te agrada muito.
Comer é absorver nutrientes. É começando pela boca que já absorvemos alguns nutrientes
Comer trás memórias. Quem nunca lembra daquela receita feita por uma pessoa querida.
Comer é aprendido. Pensa num bebê, logo na sua introdução alimentar, ele cospe, engole, engasga, tenta levar o alimento até a boca. Esse bebe está criando habilidades para um dia comer sozinho
Comer precisa de 27 músculos. Muita coisa né.
Comer traz sentimentos. Você já comeu por estar ansioso? Você comemora com alimentos?
Comer envolve cognição, sistema sensorial. A observação, o exemplo, a tentativa de levar a comida até a boca com seu braço é tudo aprendido. O sistema sensorial como tato, olfato, paladar, visão estão inteiramente ligados ao comer.
Comer é social. Você come com alguém ao seu lado?
Comer é cultural. Qualquer região, cidade, país pode te apresentar um sabor de pizza diferente, por exemplo.
Comer é político. As suas escolhas alimentares e o local que compra o alimento são atos políticos. Você compra mais da indústria ou da feirinha do bairro? Você consegue consumir mais orgânico ou não?
Comer é COMERmorar. Por um acaso já foi em um aniversário?
Todas essas possibilidades podem acontecer em um momento de refeição. Um único momento. A criança e ou bebê que está iniciando esse processo na vida dela pode ser educado toda essa abrangência do conceito comer. De forma leve e respeitosa.
A querida nutricionista Ellyn Satter em 2007 disse que
“Comer é mais do que jogar lenha na fogueira ou abastecer um carro. Comer é mais do que escolher um alimento e dar para uma criança. Comer e dar de comer reflete nossa atitude e relacionamento com nós mesmos, com os outros e com as nossas histórias. Comer tem relação com autorrespeito, nossa conexão com nossos corpos e compromisso com a vida”